sexta-feira, 31 de julho de 2009

deixar

"deixa-me", disse-te isto tantas vezes quantas as que te quis ao meu lado, vezes essas que já não se contam pelos dedos das mãos nem pelos lápis de uma caixa das grandes com cores repetidas. não consigo ter conversas contigo em que eu diga o que sinto sem parecer ridícula, existe sempre qualquer coisa no teu tom de voz que me parece censurar e por isso acabo sempre por falar, leia-se escrever, para ninguém porque assim ninguém me censura, ninguém me chama de parva por ainda estar presa a isto. mas sabes, isto é muito para mim e custa-me que o deixes morrer assim. é o mesmo que ter um filho e desistir depois das dores do parto. alguém diz que quando se ama há sempre tempo, há sempre bateria e rede eu digo que se assim fosse tu hoje não tinhas sono e o teu jogo amanha não era realmente um factor importante que não te levasse a dispensar-me 2 minutos para escrever uma mensagem com um "eu tb." assim curto e meio frio. isso chegar-me-ia para saber que estás do meu lado, comigo, contra todas as expectativas e pareceres. o pior é que eu sei que muitas das vezes te faço o mesmo e me esqueço de um 'eu tb'; a mim isso faz me forte, faz me sentir ainda indiferente ao que tu falas e por consequência fico com a ilusão que nao dependo de ti. ás vezes é difícil ouvir-te e ignorar ou ignorar a indiferença e fingir que me amas sempre, sempre sempre, mesmo que não me dês a mão quando preciso e nao esperes por mim. um dia vai ser assim. vou pedir-te a mão, tu não a vais ceder e depois vais correr bem rápido como se tivesses a bola nos pés e a baliza fosse o teu objectivo. podes correr mas não chutes com força. nunca levas-te com uma bola? ás vezes dói. e hoje apago a noite num cinzeiro. sinto sempre que falhei aos teus olhos, nunca chego. guardo a sensação de fracasso para mim e tento fingir que nao era mais feliz se fosses mais inteligente ou se nao falhasses tanto como ser humano.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

cacos

"quem não tem tectos de vidro atire a 1ª pedra"
Foi exactamente isso que fizeste. Nunca soubeste a tua importância e no momento menos oportuno resolves-te atirar uma pedra. Acertas em cheio no meu coração forte mas, por azar, o sitio que a tua pedra atingiu é o mais fraco e quebrável. nem sequer me mexi, deixei me ser atingida. Fiquei inerte vendo todos aqueles cacos no chão. O acto de virares as costas como se fosses uma rocha sem sentimentos só me deu mais força. Não fiquei parada a chorar por mais vontade que tinha. Apanhei cada pedaço despedaçado do meu coração erguendo a cabeça e sem verter uma lágrima ou esboçar um sorriso. Ainda hoje recolho pedaços míseros onde nem sequer sabia estarem e não preciso de ajuda. A minha ideia não é fingir que não aconteces-te, é dar-te a importância que mereces e usar-te como uma lição. Sei que ainda nao está completo mas tenho tempo, e não tenho pressa.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

M de meu

Tu.Tu és: um fato de Carnaval no fundo do meu armário.
Cada vez que olho para ti, vejo-me. É tão inevitável ver-me a mim nessa tua liberdade de espírito e sorriso fácil. Um dia quis ser como tu, ou juntar-me a ti mas são demasiadas coisas para te fazer um fato de mascara sério. ambiciono um dia usar-te numa peça de teatro ou vestir-te uma única vez para conseguir sentir-te na minha pele e encostar cada pedaço teu a mim. Estás coberto de pó e de teias de aranha mas nem por isso perdes o teu encanto especial. A tua beleza centra-se na simplicidade dos teus traços, linhas rectas e cores neutras que ao contrario do esperado não te tornam banal mas sim diferente de tudo o que eu havia incorporado. Olho para ti no fundo do meu armário, estás triste e sozinho. Novamente a minha imagem reflecte-se em ti e por impulso agarro-te numa manga. Sacudo-te e sem demoras retiro a roupa que me cobre e visto-te. já nem o teu cheiro a mofo me retraí. És um fato lindo e devias ser usado mais vezes. Tenho pena da minha vida nao me deixar olhar para ti mais vezes e passares despercebido e esquecido no fundo daquele armário onde guardo as recordações, ou as coisas que já nao uso mas não quero dar nem esquecer. Sou egoísta. E tu és lindo e meu, és o meu fato. desapertei o teu fecho e vesti-te. agora somos 1. olho-me ao espelho. ficas bem em mim. já não penso muito. és um fato lindo, quem me dera ter-te mais vezes. e choro. choro de alegria e de saudade. ainda agora estamos juntos mas e o amanha? não posso vestir-te para sempre. és um fato lindo. é bom ter-te em mim e é bom sentir-te aqui, junto a mim, agarrado a cada pedaço da minha pele acariciando-a. olho-me ao espelho e as tuas linhas suaves parece que me dizem que já chega, que o nosso tempo acabou. não choro, foi bom e agora só quero guardar este vislumbre da nossa junção durante muito tempo. não te peço que fiques comigo, não aguento um não e depois os fatos de mascaras como tu nunca passam de moda, porque nunca estão na moda. desaperto-te, lanço-te um olhar de cumplicidade. entre nós não existem despedidas porque o futuro é incerto. não te vou emprestar ás minhas amigas. tu és o meu fato de Carnaval. um dia reformulo-te e passas a ser uma camisola, acho que davas uma bonita camisola e tenho a certeza que serias a minha camisola preferida. estou feliz, foi bom. agora percebo o porquê de chamarem a uma coisa como tu um fato de fantasia. vou-te por de novo no sitio onde te fui buscar, lá estás tu cheio de pó e com um inquietante cheiro a mofo que não atenua de maneira nenhuma a minha vontade de te vestir.