terça-feira, 2 de março de 2010

A estação


Passo tempos e tempos sem horas nem tempo, nem mundo, nem sons nem faces. Tempo que passa e não passa por dentro, não marca. Tempo que faz crescer rugas na cara e torna impremiável todos os olhos choroes que se mascaram de rios de saudades. Os tempos não é o tempo. O tempo passa ao bater do relógio, cada segundo compassado pelos ponteiros. Ao menos esses não estão sós. O tempo passa com o relógio, com os ponteiros, com o bater de um coração indiferente ao tempo. Os tempos não passam, ficam, ajudam, desajudam, marcam historias e relembram-nas e não as fazem velhas. Se estou num comboio não vejo as paragens e mesmo assim saiu e reviro o mundo á procura duma paragem em que o reencontro comigo seja garantido. É difícil. O tempo não pára e os tempos pedem mais, oiço-os gritando pedindo auxilio para que apareça alguém que salve as historias que ainda estão para serem contadas do puro esquecimento. Essas historias estão na gaveta, pediram me para que as guardasse enquanto não eu não aparecer, eu própria tomarei conta delas. eu própria só as tirarei da gaveta quando me encontrar numa dessas paragens sem localização precisa, porque sei que quando isso acontecer serei capaz de viver cada historia com a eloquência e magnificiencia que cada uma delas precisa para parar o tempo e marcar os tempos.